Corra, a vida te chama é um retorno à infância oculta. E nele o doutor Boris Cyrulnik revela a todos o que, como menino judeu, teve de ocultar durante anos por medo de que não acreditassem nele. Sempre que tentava falar de sua "evasão", aos 6 anos, da igreja em que fora agrupado com outras crianças e adultos para ser deportado para alguns dos destinos que bem sabemos, temia que parecesse inverossímil. E então na maior parte das vezes se calava, falando sem cessar de mil outros pormenores, até para esconder no fundo de si mesmo o trauma.
E que impacto tem hoje tal revelação compartilhada por um médico tão devotado a cuidar dos sofrimentos da alma alheia! Ao estabelecer o conceito de resiliência, ele não busca enternecer, mas demonstrar que é possível curar ou atenuar as perturbações ligadas a sofrimentos profundos.
Cyrulnik conta; mas não o faz de modo linear como se narrasse uma simples história. Ele quer que este relato sirva a outros, e faz de cada lembrança de sua infância, passada durante a Segunda Guerra Mundial e após, um espaço para melhor explicar todas as situações da alma que afetam as crianças submetidas a traumas semelhantes: o da separação brutal dos pais, o da vivência em orfanatos ou em casa de famílias estranhas, o de ligações afetivas bruscamente rompidas, o do abandono.
Este livro é uma lição de coragem e de generosidade por um homem, um médico, um escritor que é um exemplo da vontade de viver.
Sobre o Autor
Boris Cyrulnik nasceu em Bordeuax, 26 de julho de 1937. Filho de judeus russo-poloneses, perde os pais nos campos de concentração nazista e tem sua infância marcada pela passagem em campos de refugiados, instituições de assistência pública, até ser acolhido por uma tia, aos 8 anos. Com a idade de 14 anos “descobre a etologia”, lendo um livro sobre entomologia, de Henri Fabre. Ainda na adolescência se destaca no Rugby como desportista, onde ocupa o lugar na 3ª linha. Em sua obra faz referência a esse modelo de jogo como metáfora para o processo de descoberta científica. Durante sua formação, realizou estudos no Liceu Jacques-Decour (Paris); nos anos 60 fez medicina na Faculdade de Medicina de Marselha e se direciona para a etologia. Fez Residências nos campos da Neurologia em Paris (1967) e Psiquiatria em Digne (1968-1971). No Instituto de Psicologia, obtém certificado de Estudos Especiais em Neuro-Psiquiatria. A partir de 1996 torna-se Diretor de Ensino na Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Toulon e em 1998 Presidente do Centro Nacional de Criação e Difusão Culturais de Châteauvallon. Boris Cyrulnik redimensionou o campo da Etologia - ciência que estuda o comportamento tanto dos animais como dos humanos. Atualmente é responsável pelo grupo de pesquisa em Etologia Clínica no Hospital de Toulon. É professor de Etologia Humana na “Université du Sud-Toulon-Var”. Possui cerca de duzentos artigos publicados sobre o tema, é autor de 50 livros. No ano de 1997, recebe a Medalha dos Justos. Boris Cyrulnik é uma das 43 personalidades que constituem a Comissão Attali, Comissão de liberação e crescimento da França, dirigida pelo economista Jacques Attali, instalada pelo presidente Nicolas Sarkozy em 30 agosto de 2007.