Como em O Idiota (já publicado nesta colecção), em O Eterno Marido o ciúme é o tema-chave.
Mas, enquanto naquele livro os conflitos são vividos por caracteres dotados de grande força interior, em O Eterno Marido, esse sentimento é elaborado em função de um personagem cheio de fragilidades, propenso a uma passividade que o expõe ao ridículo.
As suas tentativas de abafar os seus ressentimentos e alcançar a felicidade a todo o custo acabam por se exteriorizar assumindo os contornos do crime.
No entanto, mais do que esta compreensão que Dostoiévski possui em relação aos comportamentos, fascinam-nos o seu alcance filosófico e a sua intuição poética, que nos deixam perante o enigma do psiquismo humano como mistério insondável.
O Eterno Marido, publicado pela primeira vez em revista no ano de 1870, só no ano seguinte teria a sua primeira edição em livro.
Esta versão em língua portuguesa, da autoria de Nina Guerra e Filipe Guerra, é fruto de um trabalho de tradução feito directamente a partir do russo.
Dostoiévski é universalmente considerado como um dos grandes iniciadores da literatura moderna. É também em muitos aspectos um precursor do pensamento de Freud pela admirável compreensão das motivações profundas e não conscientes, do sofrimento psíquico, da linguagem dos sonhos, dos laivos de loucura que caracterizam os comportamentos.