Os 22 textos reunidos em Tempos fraturados são reflexões abrangentes sobre arte e política que ecoam algumas de suas obras clássicas, como A era dos extremos e Sobre história. Em ensaios inéditos, resenhas sobre livros de ciência e economia ou conferências em festivais literários, o autor acompanha o florescimento da belle époque, as vertentes do capitalismo moderno na Europa e nos Estados Unidos, a consolidação da sociedade de consumo. Não há aspecto relevante da cultura burguesa que ele não tenha examinado com brilho e elegância. O rumo das artes na atualidade, cultura e política na virada no milênio, Karl Kraus, os judeus e a vida intelectual, economia, ciência, art nouveau, arte pop, caubóis, religião, todos são temas abordados no livro. A coletânea, finalizada pouco antes da morte do autor, reúne em sua maioria textos escritos a partir dos anos 1990. É o caso de 'Os intelectuais - papel, função e paradoxo', de 2011, que lamenta o desaparecimento do intelectual público - nos dias que correm, argumenta Hobsbawm, eles não têm como fazer frente a Bono Vox. É também o caso de 'A perspectiva da religião pública', publicado pela primeira vez, que discute a religião no século XX como força política, em oposição ao papel que já exerceu como força intelectual. Mas talvez o texto mais surpreendente da coletânea seja 'O caubói americano - um mito internacional?'. A partir de um tema do imaginário pop, o historiador discute como uma subclasse empobrecida da região rural americana pôde dar origem a um símbolo de identificação nacional, fato que não se repetiu em outros países. Tempos fraturados é um testamento à altura do autor, um dos mais brilhantes intelectuais do século XX.