Quase meio século depois de sua publicação, Ordem e Progresso se mantém moderna e provocativa como na época de seu lançamento. Durante esse longo período, a obra de Gilberto Freyre foi discutida, atacada, louvada, sem que perdesse uma lasca de sua importância, espécie de montanha pétrea na planície dos estudos brasileiros. Pelo contrário, ganhou o reconhecimento universal como documento indispensável ao conhecimento do Brasil - os vários Brasis que convivem no espaço e no tempo -, e sua formação. Podendo ser analisada e avaliada como obra independente, Ordem e Progresso ganha em ser considerada, dentro do projeto do autor, como uma fase da história da sociedade patriarcal brasileira, aquela de desintegração do patriarcalismo, sob o regime de trabalho livre. Obra pioneira como interpretação, Ordem e Progresso introduz uma novidade de pesquisa nos estudos de sociologia e antropologia, a utilização de entrevistas padronizadas, dirigidas a pessoas que viveram a fase histórica estudada. Mais sintética do que analítica, segundo o próprio Freyre, Ordem e Progresso abrange o período histórico de transição da monarquia para a república, que se estende da assinatura da lei do Ventre Livre, 1871, quando as pressões para a abolição da escravatura começam a se tornar irresistíveis, à eclosão da Primeira Guerra Mundial, 1914, época de decadência da economia cafeeira e de aceleramento do processo de industrialização. Fase de influência do pensamento positivista, cujo lema seria incorporado à bandeira brasileira e serviria de título à obra de Freyre. "Mais do que um lema de uma corrente político-filosófica particular, o Ordem e Progresso é uma mística do patronato político, uma constante nacional", observa Nicolau Sevcenko no prefácio a esta nova edição. O Brasil abre-se, então, em definitivo, para o mundo e a modernidade.